terça-feira, 24 de novembro de 2009
RETRATOS A PEDRA NEGRA - Ricardo Leite
inaugura a 1 de Dezembro 18h
ESPAÇO GESTO - rua Cândido dos Reis, 64 Porto
RETRATOS A PEDRA NEGRA
Na verdade, de há uns anos para cá, não tenho feito outra coisa (à parte pintar cinzeiros, cactos, algumas flores, cadeiras e macacos de peluche). Porém, embora reconheça que pintar retratos me retira, merecidamente, a possibilidade de ser conotado como criativo e interessante, não me atormenta a ideia de retratar pessoas até ao fim da minha vida.
“… e quando tiver cento e dez anos tudo o que fizer, seja um ponto ou uma linha, estará pleno de vida”, palavras do velho mestre Hokusai. Não prometo o mesmo.
Alla prima
Na grande maioria das exposições de desenho, os trabalhos expostos resultam de uma selecção, que, certamente, obedece a diferentes critérios, porventura, de diferentes pessoas.
Aqui, para meu infortúnio não há critério. Não houve segunda tentativa nem retoques de aperfeiçoamento fora do tempo de pose (que podia variar entre os 30 e os 50 minutos). O que se pode ver nesta exposição é, mesmo, “desenho a metro”.
O formato, as dimensões do papel, o material riscador, o cadeirão foram as constantes.
As poses, os enquadramentos, as diferentes distâncias a que me coloquei dos modelos, o posicionamento da folha, vertical ou horizontal, foram as variantes de desenho com as quais me debati, em torno daquilo que se pode designar “aspectos da composição”.
Parecido, parecido, não está!
O ponto onde a prática do desenho de retrato ao natural se distingue de outras formas de representação - excepto da pintura - é, a meu ver, o tempo.
A consonância entre os tempos das duas pessoas envolvidas nesta situação é flagrante.
Poderia formular o problema deste modo: ambas estão a ser em simultâneo. A imobilidade do retratado é aparente.
Ao decorrer dos minutos a anatomia reage, ainda que milimetricamente: os músculos relaxam ou contraem, na procura de minimizar desconfortos físicos que não se revelaram inicialmente; o rosto, como veículo privilegiado da expressividade psicológica, mostra-a fisicamente exposta.
À linha que, num preciso momento, tenta captar uma determinada configuração, acumular-se-ão outras linhas que, minutos ou segundos depois, encontram outras configurações. Poder-se-á dizer que as linhas, perseguem os vários momentos da pessoa retratada ao longo da sessão.
Daí que convém sempre dar uma vista de olhos aos desenhos do primo, do filho do amigo ou do neto que, “ainda em pequenino, sempre teve muito jeito para fazer a cara das pessoas e que as fazia mesmo parecidas”.
Ricardo Leite
Nasceu no Porto em Setembro de 1970.
Licenciou-se em Artes Plásticas- Pintura em 1999 na FBAUP, tendo estado o último ano do curso em Salford (Reino Unido) ao abrigo do programa Erasmus.
Em 2000 é o vencedor do primeiro prémio de pintura Arte Jovem de Penafiel e no mesmo ano tem um trabalho exposto na National Portrait Gallery em Londres no âmbito do prémio anual BP Portrait Award.
Em 2006 ganha o Prémio Revelação de Pintura da Caixa geral de depósitos/Centro Nacional de Cultura.
De 2000 a 2009 desempenhou funções de docente de desenho e pintura na Escola Superior Artística do Porto.
É o formador responsável pelo Curso Livre de Desenho na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto desde 2006.
Leciona na Escola de Experiências Artísticas Nextart em Lisboa e é actualmente assistente estagiário na disciplina de Desenho na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
www.ricardo-leite.net
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
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